quarta-feira, 30 de abril de 2014

David Copperfield

"Não me importava de partir. Encontrava-me em tal estado de embrutecimento que o meu desejo era reencontrar Steerforth, se bem que por trás dele aparecesse a sombra de Creakle. Mais uma vez apareceu ao portão o carroceiro Barkis e mais uma vez a senhora Murdstone avisou a minha mãe com um «Clara!» enérgico quando ela se inclinou para me dar o beijo de despedida.
Beijei-a também, assim como ao meu irmãozinho, e então senti-me triste, não, porém, de me ir embora, pois entre nós cavara-se um abismo e a separação já existia. O seu adeus, embora caloroso, não está tão presente na minha memória como o que se seguiu.
Achava-me na carroça quando a ouvi pronunciar o meu nome. Voltei-me e vi-a à porta, com o pequenito nos braços, erguendo-o para que eu o contemplasse. O tempo ainda se mantinha frio, mas sem vento. Nem um cabelo, nem uma dobra do seu vestido se moveu enquanto ela ali ficou olhando-me intensamente e segurando sempre a criança à altura da cabeça.
Foi assim que a perdi. Foi assim que a evoquei mais tarde, no Internato - uma presença silenciosa junto da minha cama - ; olhando-me com o mesmo olhar fixo e o bebé erguido nos braços."

Charles Dickens, David Copperfield

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