sábado, 16 de janeiro de 2010

Não digo que não

Estou sozinha, mas o Inverno está lá fora. Não penso fazer-lhe companhia. Prefiro o conforto da minha quietude. Hoje estou pacífica. Hoje tudo está calmo. E não quero mais voltar a ontem. Prefiro o sossego e a certeza de que tudo está bem. Encostar a cabeça na minha almofada e saber que vou acordar igual. Não preciso de mais nada... Não vou dizer que não...

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Pessoa...como sempre

Tenho dó das estrelas
Luzindo há tanto tempo,
Há tanto tempo...
Tenho dó delas.

Não haverá um cansaço
Das coisas,
De todas as coisas,
Como das pernas ou de um braço?

Um cansaço de existir,
De ser,
Só de ser,
O ser trise brilhar ou sorrir...

Não haverá, enfim,
Para as coisas que são,
Não a morte, mas sim
Uma outra espécie de fim,
Ou uma grande razão-
Qualquer coisa assim
Como um perdão?


Fernando Pessoa

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Até ao fim

-Às vezes pergunto-me, quero dizer, perguntava-me:como é que chegou tudo aqui?- disse Miguel.- Perguntava-me pergunto-me, mas não muito. Tenho asco ao porquê. É a fórmula dos desocupados, dos tinhosos, dos raquíticos. Que adianta o porquê? A razão escolhe-se para ser razão. Antes de ela ser escolhida já se foi o que se tinha de ser. Mas às vezes perguntava-me como é que vim dar aqui?
Sinto no corpo o frio da madrugada. O dia despreende-se da noite devagar, traz consigo os restos da humidade. Mas no fundo do escuro, o sinal indeciso de um dia novo, como dizê-lo?um início com o esquecimento que lhe pertence do que é ruína e morte.
-Como é que foi?
Não há como é que, há só o ter chegado, que é que interessa? Não me sinto confortável em parte nenhuma do meu ser, o meu erro é orgânico e não é assim erro nenhum. Mas não me sinto bem nele, devo ter nascido em mim por engano.


Até ao fim, Vergílio Ferreira

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Prometo não mais voltar as costas à poesia...

Começarei revivendo o Poesias de Hoje e de Sempre.

VIOLONCELO

Chorai, arcadas
Do violoncelo,
Convulsionadas.
Pontes aladas
De pesadelo...

De que esvoaçam,
Brancos, os arcos.
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio os barcos.

Fundas, soluçam
Caudais de choro.
Que ruínas, ouçam...
Se se debruçam,
Que sorvedouro!

Lívidos astros,
Soidões lacustres...
Lemes e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!

Urnas quebradas.
Blocos de gelo!
Chorai, arcadas
Do violoncelo,
Despedaçadas...

Camilo Pessanha

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

2009

Ainda que olhe para trás e me pareça que foi um ano para esquecer, como todas as pessoas que me são bem próximas sabem, apercebo-me de que há males que vêm por bem. Muitas pessoas desapontaram-me, aquelas que pensava que nunca me poderiam causar dano fizeram-me mal, familiares começaram a adoecer de forma estranha, enfim... Tudo isso serviu para que eu aprendesse a valorizar o pouco que tenho. Ver pessoas amadas a lutar para poder acordar todos os dias deu-me consciência da nossa fragilidade e, ao mesmo tempo, do nosso egoísmo. Como poderia estar eu preocupada com os meus míseros problemas, quando tinha pessoas ao meu lado que só queriam sobreviver a mais um dia??
Sim, com isto aprendi a valorizar apenas aquilo que valia a pena e a não perder tempo com situações irrecuperáveis. E vi que em 2009 as pessoas que valiam a pena estiveram comigo até ao fim:

-em 2009 trajei-me pela última vez junto das pessoas ao lado das quais isso realmente valia a pena: Sarinha e Carlinha.

-em 2009 passei momentos inesquecíveis(e sim, inesquecíveis, porque muitos deles estão gravados em fotos ou em vídeos, eheheh) junto da minha família, que é a melhor que eu poderia desejar.

-em 2009 fui ao Dragão ver o meu FcPorto ser campeão e fartei-me de saltar nos Aliados ao lado dos meus "heróis"(só lamento hoje a companhia, mas a alegria do momento faz-me esquecer quem quer que estivesse comigo)

-em 2009 disse definitivamente "Adeus" à vida académica de Coimbra e partilhei esse momento com todos aqueles que queria partilhar: os meus amigos(Carla, Sara, Pinky, Castro, sem esquecer a presença da minha amiga de sempre Natália) e com a minha familia.

-em 2009 redescobri velhas amizades, amizades de infância, que pareciam já se ter perdido no tempo. A verdade é que as verdadeiras amizades sobrevivem a tudo, mesmo ao afastamento, e isso deixou-me muito confiante num futuro mais alegre.

-em 2009 aprendi que os verdadeiros amigos nunca deixarão de nos amar, e que só é importante para nós quem não nos acha dispensável.

-e, por fim, em 2009 aprendi que não faz mal ser lamechas. Porque amanhã podemos já não ir a tempo de dizer às pessoas que amamos o quão importantes elas são na nossa vida.

Por isso, obrigada a todos os que, apesar de tudo, me fazem olhar para 2009 com um sorriso nos lábios, esperando um 2010 cheia de optimismo.

:)