"- Bom. Há duas normas de vida e mais nenhuma. Não bem normas, não há «normas» de nada. Enfim, há dois modos de viver: ou se mete a vida na morte ou se mete a morte na vida.
parou, afagando a pera, fitou Mário de través, como se suspeitasse uma acusação:
- Claro que eu meto a morte na vida. Que há mais do que a vida? Mais nada, mais nada. A morte não existe.
Voltou a meditar, alheado:
- Sim, sim. Oh, a Dina, a minha pobre mulher, se a lembro. Lembro-a eu, lembram-na os gatos, a Vitorina, a cadeira de braços... Mas ela não lembra nada, e é isso que importa. To die, to sleep, no more. Eis que a manhã vem aí e o sol e a vida, e a terra se vai cumprir sem embaraços. Sim, sim, não adianta falar. A vida não se aprende, não se ensina...
- Nem a morte..."
Cântico Final, Vergilio Ferreira
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