segunda-feira, 7 de abril de 2014

Um poema (?) por dia...nº18

"O nada integral, absoluto. Quando recuperou os sentidos, já no seu quarto, teve essa enorme surpresa de tudo se ter  passado, de o nada daquela sua morte temporária ter coincidido com um valor em tempo que ele sabia ser grande, de, enfim, ter estado morto e não poder desesperadamente imaginar a morte. (Quantas vezes, mais tarde, ele havia de lembrar esta sua experiência, para roubar um pouco do segredo à grande noite! Impossível: dentro da morte não havia espaço, não havia um instante de tempo para incluir nele uma ideia, uma imagem. O nada da morte era uma destruição desse próprio nada - fechado, absurdo, sem limites, sem nada de discernível. E, todavia, não era isto também: para ser «alguma coisa», tinha de contemplá-lo das próprias margens da vida. Vão mistério, incrível irrealidade - e tão fascinante!)."

Cântico Final, Vergilio Ferreira

Sem comentários:

Enviar um comentário