sexta-feira, 23 de maio de 2014

Nas grandes horas em que a insónia avulta 
Como um novo universo doloroso, 
E a mente é clara com um ser que insulta 
O uso confuso com que o dia é ocioso, 

Cismo, embebido em sombras de repouso 
Onde habitam fantasmas e a alma é oculta, 
Em quanto errei e quanto ou dor ou gozo 
Me farão nada, como frase estulta. 

Cismo, cheio de nada, e a noite é tudo. 
Meu coração, que fala estando mudo, 
Repete seu monótono torpor 

Na sombra, no delírio da clareza, 
E não há Deus, nem ser, nem Natureza 
E a própria mágoa melhor fora dor. 

Fernando Pessoa

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