sábado, 27 de agosto de 2016

Para sempre


Para sempre. Aqui estou. É uma tarde de Verão, está quente. Tarde de Agosto. Olho-a em volta, na sufocação do calor, na posse final do meu destino.E uma comoção abrupta - sê calmo. Na aprendizagem serena do silêncio. Nada mais terás que aprender? Nada mais. Tu, e a vida que em ti foi acontecendo. E a que foi acontecendo aos outros- é a História que se diz?abro a porta do quintal. É um portão desconjuntado, as dobradiças a despegarem-se. Há muito tempo já que aqui não vinhas.(...) Abro a porta devagar, ela range para o espaço do jardim. É um jardim morto, as plantas secas, os canteiros arrasados nas pedras que os limitavam. Alguns têm só terra ou hastes secas de roseiras. Vejo-as do portão, o carro à entrada a trabalhar. Depois, meto-o na garagem, que é um barracão ao lado da casa. Um silêncio súbito, silêncio de terra.(...) Reparo agora melhor no pequeno jardim. Uma selva bravia. As plantas selvagens irromperam de todo o lado, aos cantos dos muros à volta, junto à casa. Há´algumas armações de madeira ainda, já apodrecidas, suspensas de arames, sem flores. Olho-o um instante, olho a casa, circunvago o olhar. Preparar o futuro- o futuro... E uma súbita ternura não sei porquê. Silêncio. Até ao oculto da tua comoção. Preparar o futuro, preparação para a morte. Está certo. Parte-se carregado de coisas, elas vão-se perdendo pelo caminho. Se ao menos uma breve ideia. Não tenho. Não é bem a vida que faz falta- só aquilo que a faz viver.

Para sempre, Vergílio Ferreira

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