quinta-feira, 22 de setembro de 2016

Cadernos da Casa Morta, Dostoiévski



Do lado de lá do portão era o mundo luminoso, livre, onde as pessoas viviam a sua vida de gente normal. Mas, deste lado da muralha, imaginava-se esse mundo como um conto de fadas irrealizável. Deste lado era um mundo especial, sem comparação com nada;tinha as suas leis particulares, os seus trajes próprios, os seus costumes e tradições, era uma casa morta em vida, e não havia em qualquer outro lugar uma existência como esta, e as pessoas eram outras. É este o recanto peculiar que agora começo a descrever.

(Imagem retirada daqui)

domingo, 18 de setembro de 2016

Sound of silence

Porquê?

Porquê? Para quê? Por nada. Para nada. Mas não perguntes. Passam-se dias que te chamo e não vens. Ou vens mas não és tu. É uma imagem fria de ti, como de tanta coisa que recordo. Oi passas rápida pela lembrança e não te deténs um pouco. Mas outros dias nem sequer te chamo, entretido com o banal quotidiano.

Vergílio Ferreira, Cartas a Sandra

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

sábado, 10 de setembro de 2016

Se tu viesses

Se tu viesses. Porque tudo está preparado para a tua vinda. Os caminhos transbordam de flores silvestres, o sol ilumina-se como um lume novo. Virás decerto na aragem leve, fluida de ausência, a face triste. Ou talvez sorrias no teu alheamento como uma memória que passou. Trarás talvez no rosto o sinal de uma sagração com que os deuses te ungiram na eternidade. E haverá no ondeado do teu corpo o olhar com que te espero. Não tenho pressa, o que é grande e inimaginável leva milénios a acontecer. Eu estarei sentado à tua espera porque é impossível que não venhas quando a terra inteira se preparou para que passasses. Se tu viesses. Tu quem? 

Vergílio Ferreira, Escrever

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

quarta-feira, 7 de setembro de 2016

Sol Frio


Vergílio Ferreira, Escrever

segunda-feira, 5 de setembro de 2016

Vergílio Ferreira, Escrever


É tarde já, vão sendo horas - horas de quê? De nada. De existir. De olhar ainda a luz, a vida. De absorver em mim o universo e levá-lo comigo sem nada desperdiçar. De exercer o ouvido enquanto ouve, os olhos, o corpo inteiro para que nada fique dele sem se cumprir. De encher os bolsos de tudo o que se me dá ou sonhar mesmo o que me não deram e não deixar perder nada por distracção. De dizer a palavra vida e tudo nela florir logo na sua existência para levar comigo essa vida inteira e tê-la comigo na morte.
Vergílio Ferreira, Escrever, 20

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Escolhas





Com que vida encherei os poucos breves
Dias que me são dados? Será minha 
A minha vida ou dada
A outros ou a sombras? 

À sombra de nós mesmos quantos homens 
Inconscientes nos sacrificamos,
E um destino cumprimos
Nem nosso nem alheio!

Ó deuses imortais, saiba eu ao menos
Aceitar sem querê-lo, sorridente,
O curso áspero e duro
Da estrada permitida.


Porém nosso destino é o que for nosso,
Que nos deu a sorte, ou, alheio fado,
Anónimo a um anónimo,
Nos arrasta a corrente.

Ricardo Reis