terça-feira, 24 de setembro de 2013

António Ramos Rosa

Quando soube ontem da morte do enorme poeta António Ramos Rosa fiquei com algumas saudades do tempo em que a minha mente estava imersa na contemporaneidade! Estou felicíssima por ter seguido caminhos medievais, mas na poesia destes poetas desta geração de ouro do século XX há algo que me apaixona. E ontem calou-se, talvez, a última voz dessa grande geração! Que a sua mensagem se perpetue.
Não posso adiar o amor para outro século 
não posso 
ainda que o grito sufoque na garganta 
ainda que o ódio estale e crepite e arda 
sob montanhas cinzentas 
e montanhas cinzentas 

Não posso adiar este abraço 
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração


António Ramos Rosa

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Confiança


O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que não se prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...


Miguel Torga