Quando soube ontem da morte do enorme poeta António Ramos Rosa fiquei com algumas saudades do tempo em que a minha mente estava imersa na contemporaneidade! Estou felicíssima por ter seguido caminhos medievais, mas na poesia destes poetas desta geração de ouro do século XX há algo que me apaixona. E ontem calou-se, talvez, a última voz dessa grande geração! Que a sua mensagem se perpetue.
Não posso adiar o amor para outro século
não posso
ainda que o grito sufoque na garganta
ainda que o ódio estale e crepite e arda
sob montanhas cinzentas
e montanhas cinzentas
Não posso adiar este abraço
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio
Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação
Não posso adiar o coração
António Ramos Rosa