quinta-feira, 20 de março de 2014

Um poema por dia...nº3

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade

quarta-feira, 19 de março de 2014

Um poema por dia...nº2

A noite desce...

Como pálpebras roxas que tombassem 
Sobre uns olhos cansados, carinhosas, 
A noite desce... Ah! doces mãos piedosas 
Que os meus olhos tristíssimos fechassem! 

Assim mãos de bondade me embalassem! 
Assim me adormecessem, caridosas, 
E em braçadas de lírios e mimosas, 
No crepúsculo que desce me enterrassem! 

A noite em sombra e fumo se desfaz... 
Perfume de baunilha ou de lilás, 
A noite põe-me embriagada, louca! 

E a noite vai descendo, muda e calma... 
Meu doce Amor, tu beijas a minh’alma 
Beijando nesta hora a minha boca! 


Florbela Espanca

terça-feira, 18 de março de 2014

Um poema por dia.... nº 1

Sossega, coração! Não desesperes! 
Talvez um dia, para além dos dias, 
Encontres o que queres porque o queres. 
Então, livre de falsas nostalgias, 
Atingirás a perfeição de seres. 
Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo! 
Pobre esperença a de existir somente! 
Como quem passa a mão pelo cabelo 
E em si mesmo se sente diferente, 
Como faz mal ao sonho o concebê-lo! 
Sossega, coração, contudo! Dorme!
O sossego não quer razão nem causa.
Quer só a noite plácida e enorme,
A grande, universal, solente pausa
Antes que tudo em tudo se transforme.

Fernando Pessoa, 2-8-1933.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Happiness

Há música na minha vida. Doce e cintilante. Acordo todos os dias para uma existência nova, pintada de todas as cores. A tua voz é uma melodia calma e transparente, que transforma tudo em sorrisos, e me faz pensar que o meu mundo está aqui todo, neste cantinho que é só nosso. 



terça-feira, 24 de setembro de 2013

António Ramos Rosa

Quando soube ontem da morte do enorme poeta António Ramos Rosa fiquei com algumas saudades do tempo em que a minha mente estava imersa na contemporaneidade! Estou felicíssima por ter seguido caminhos medievais, mas na poesia destes poetas desta geração de ouro do século XX há algo que me apaixona. E ontem calou-se, talvez, a última voz dessa grande geração! Que a sua mensagem se perpetue.
Não posso adiar o amor para outro século 
não posso 
ainda que o grito sufoque na garganta 
ainda que o ódio estale e crepite e arda 
sob montanhas cinzentas 
e montanhas cinzentas 

Não posso adiar este abraço 
que é uma arma de dois gumes
amor e ódio

Não posso adiar
ainda que a noite pese séculos sobre as costas
e a aurora indecisa demore
não posso adiar para outro século a minha vida
nem o meu amor
nem o meu grito de libertação

Não posso adiar o coração


António Ramos Rosa

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Confiança


O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura...
E que a doçura
Que não se prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...


Miguel Torga


quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Luz

A minha vida não mais voltará a ser obscura. Hoje tenho uma luz que me acompanhará sempre. A luz dos meus olhos, a luz da minha vida, meu Gabriel!